Quando, Onde e Como

Quando e onde as coisas da arte e do quotidiano acontecem. E como as vejo. É assim que "Quando, Onde e Como" revela o que não publico nos jornais... When and where art and life facts happen. And how I see it. This is the way that “When, Where and How” shows what I do not publish in the press...

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Íntegra da conversa sobre o grupo da Casa 7

Clique! Agora, meu blog é aqui 🙂



Os artistas da Casa 7 em 1984


No sábado, dia 13 de junho, inaugura-se a exposição do grupo Casa 7 no Pivô, centro cultural no edifício Copan. Como os cinco membros do grupo participaram da 18a Bienal de São Paulo em 1985, ano enfocado pela presente mostra, os repórteres Camila Molina e Silas Martí, dos jornais O Estadão e A Folha respectivamente, me entrevistaram a respeito.

Segundo a Folha, a Bienal de São Paulo de 1985, foi “uma edição toda dedicada à pintura, que entrou para a história como Bienal da Grande Tela, por causa do longo corredor em que os quadros estavam expostos lado a lado.” Devo corrigir este parágrafo. Em primeiro lugar, não foi uma edição “dedicada à pintura”. Dois terços da 18a Bienal de São Paulo eram formados por instalações, esculturas e multimídia. Em segundo lugar, o evento não foi “dedicado” a nada, pois uma Bienal apresenta o que está sendo feito no momento e no mundo. E em terceiro, a Grande Tela não se compunha de “um longo corredor”, mas de três longos corredores.

Nos dois artigos, os artistas que em 1985 estavam evidentemente radiantes em participar com brio ao lado dos maiores nomes da pintura – coisa que foi percebida e comentada por toda a equipe da Bienal - 30 anos depois, resolveram que a "sopa estava ruim" e cospem o prato em que comeram.

Como não houve espaço para a publicação de minhas respostas às várias perguntas dos jornalistas, publico-as aqui na íntegra, para que não sejam jogadas no lixo da história, podendo servir como material aos futuros pesquisadores.




Camila Molina - Para você, qual a importância de se resgatar hoje, 30 anos depois, a produção dos artistas da Casa 7?

Sheila Leirner - Do ponto de vista do mercado, esse resgate seria apenas uma estratégia. E, como toda estratégia, mesmo as da vida corrente, não duraria. Mas do ponto de vista histórico e crítico, é sempre importante. O olhar contemporâneo modifica e enriquece a nossa visão do passado, tanto quanto o passado muda o nosso olhar sobre o presente. Com o Casa 7, pode haver um bom reajustamento do olhar. O que julgávamos excelente pode decepcionar e vice-versa.


Silas Martí - E o que achou da crítica na época que via o foco no neoexpressionismo como uma manobra de mercado?

S.L. - Achei exatamente o que ficou provado 30 anos depois: que não era pura manobra. Se fosse, teria vida curta. Veja, o MAM de Paris está hoje com uma extraordinária retrospectiva de Markus Lüpertz. Não ganhou nem uma ruga!


C.M. - Pensando hoje com distanciamento sobre A Grande Tela, como foi colocar as obras daqueles jovens artistas na Bienal?

S.L. - Não foi fácil. Os trabalhos deles eram desiguais. Uns eram mais maduros, outros francamente imaturos. Por esta razão, hesitamos bastante em convidar o Casa 7.


S.M. - Queria que você falasse um pouco sobre a Bienal de 1985, como decidiu convidar o grupo e o que aconteceu depois, como vê a cena de pintura hoje no Brasil.

S.L. - Hesitamos bastante, chegamos até mesmo a pensar em excluir os mais fracos, mas optamos por não separar o grupo, o que foi justo.

Depois aconteceu o que a gente já sabe. O interessante, talvez, é nos perguntarmos o que ficou da Grande Tela. Para mim, ficou a imagem de uma réplica do universo das intervenções, um desdobramento completamente prospectivo e quase divinatório da grande teia em que ele acabou por se transformar com a mundialização e o verdadeiro emaranhado do Web. Como os artistas, e a sua arte, são os únicos a possuir a capacidade de prospecção, um espaço crítico que os teve como medida só poderia nos fazer ver adiante. Olhando a produção pictórica hoje, não apenas no Brasil, como no mundo, penso que a Grande Tela, finalmente, se materializa.


C.M. - Como você recebe as críticas dos artistas da Casa 7 sobre A Grande Tela? Fabio Miguez já afirmou que seu discurso curatorial era "ambíguo".

S.L. - Depois da retratação no final dos anos 90 dos próprios alemães que tinham se insurgido contra o espaço e a ideia, pensei que não houvesse mais incompreensões. Pessoalmente gosto de críticas construtivas, costumo aprender muito com elas, mas não posso aceitar críticas advindas de incompreensões. Para mim, enquanto crítica e curadora, a arte sempre foi a medida de tudo. Quando alguém diz que o meu "discurso era ambíguo" penso que a pessoa só pode estar falando da própria pintura que me levou a criar um espaço e uma análise análogos ao espaço real onde ela existia e se desenvolvia na época. Se o discurso era ambíguo, se é que foi mesmo, é porque provavelmente a arte também o era.


C.M. - O Fabio Miguez disse também que A Grande Tela mostrou que eles "eram mais coletivos do que supunham". Você concorda?

S.L. - Concordo em parte. Eles não eram apenas "coletivos". O espaço curatorial da Grande Tela não dava margem a interpretações. Era perfeitamente declarado, límpido, direto, construído a partir, não de vieses ou princípios próprios, mas do repertório das obras de arte que enfocava. Aquele lugar conceitual e premonitório, pode-se dizer, revelou, antes da hora, que a pintura de quem estava lá, participava da ideia da "mundialização de individualidades". Ficou explícito, além do coletivo, que era a SINCRONICIDADE em seu sentido simbólico e poético, sugerida pelas próprias pinturas, e não a "homogeneidade", como diz o Fábio Miguez, o que estava em questão na Grande Tela.


S.M. - Você pode comentar como foi o relacionamento com eles na época da Bienal?

S.L. - Foi um relacionamento tenso, o que é normal tanto pela inexperiência deles na época quanto pela novidade e importância da situação. Sentia-se que estavam felizes, porém que não “ficava bem” demonstrar (rs) Também não sabiam exatamente qual era o seu papel dentro de um espaço “explicitamente” coletivo, não homogêneo, sincrônico e assertivo como aquele. Queriam a compartimentação, que é sempre mais protetora. Uns estavam mais confiantes, outros com o pé atrás. Coincidência ou não, penso que os menos “objetantes” se saíram melhor em suas carreiras.


C.M. - Enfim, seu balanço, hoje, sobre esse ponto de seu projeto curatorial é positivo ou negativo?

S.L. - Muito positivo! Quando se elimina a hierarquia e o escalões de "importância" entre jovens iniciantes e figurões, livramos o espectador do parti pris que o impede de fruir a obra com verdade. Ao participar de uma apresentação coletiva, e não compartimentada como os artistas do Casa 7 desejavam - o que provocou os atritos entre nós - os trabalhos do grupo, a meu ver, cresceram muito.


S.M. - Como situa os artistas da Casa Sete no panorama daquela época e o que acha deles hoje.

S.L. - No panorama daquela época, o grupo Casa 7 estava mais para “aprendiz” talentoso e experimental que desencadeia eventos sem pensar nos seus efeitos, do que para “feiticeiro” que sabe controlá-los. Qualidade juvenil. As personalidades, caráter, preocupações e energia de cada um eram muito diferentes, portanto evoluíram de formas diversas. Uns com mais arrogância e rigidez, outros com modéstia e flexibilidade, todos se saíram bem – melhor ou pior.

Marcadores: arte, cores, lembranças, visões

posted by Sheila Leirner at 10:25

sábado, 17 de janeiro de 2015

Quando a lei das religiões não pode ser imposta à lei dos homens


Claro que estou com as crianças da Nigéria. Estou com todos os inocentes. E estou na França. E ‪#‎JeSuisCharlie‬. E leio as aberrações da imprensa internacional (a brasileira, como sempre na esteira delas) e Facebook, assim como algumas declarações independentes fascistóides e conspirativas que poderiam ficar de mãos dadas com as de Le Pen e Dieudonné.

Talvez este seja o meu último post sobre o assunto, já ouvi demais. Ouvi em demasia dos cegos, incultos e insensíveis que nem se dão ao trabalho de compreender o país onde os fatos ocorrem, antes de abrirem a boca. ‪

#‎CharlieHebdo‬, sobrevivente do Islã radical e mais precisamente do terrorismo da Al-Qaeda que retoma o fôlego perdido, é - como todos sabem - francês. Portanto, deve ser analisado dentro do contexto francês, e não do ponto de vista de um papa argentino, padres brasileiros, jornalistas americanos protestantes e sobretudo de brasileiros simplórios que agora pensam que a França caiu na "armadilha de uma guerra santa contra o EI por causa de três terroristas muçulmanos". Como se a história mundial dos milhares de ataques do Islão radical nos últimos séculos não bastasse ou como se agora, na declaração de guerra ao terrorismo, não houvessem mais aliados do que nunca!

Ora, se o "delito de blasfêmia" existiu aqui, muito antes da Revolução Francêsa, ele foi definitivamente suprimido pela lei de 29 de julho de 1881 que já se referia à liberdade de imprensa, 7 anos antes da abolição da escravatura no Brasil! Na França, a liberdade de expressão é um princípio. Possui limites distintos, pois são condenáveis pela jurisdição apenas os seguintes delitos:

1) Ofensa pessoal
2) Difamação
3) Dano aos interesses fundamentais da Nação
4) Apologia de crimes de guerra e crimes contra a Humanidade
5) Provocação à discriminação
6) Ódio ou violência contra pessoas por causa de sua origem, etnia, raça ou religião.
7) Apologia do terrorismo (Lei de novembro de 2014)

Charlie Hebdo sofreu processos, como qualquer jornal, porém jamais incorreu em alguma destas infrações e jamais foi condenado ou perseguido por isso. Seus desenhos gozadores, mesmo os de "mau gosto", “"rreverentes" ou "desagradáveis" podem ser considerados, no máximo, blasfematórios. Mas blasfêmia, em estado laico como a França, não é crime! O estado laico não é apenas uma singularidade extraordinária, é uma PRECIOSIDADE que foi conquistada a duras penas!

Devemos ficar reconhecidos que a imprensa, por meio do sacrifício de #CharlieHebdo, reencontre a sua formidável tradição histórica da sátira, que foi esquecida e/ou obliterada pela descerebração mundial! Como não pensar em Daumier, Cham e mais tarde o jornal "Le Crapouillot"(1915), André Gill, sob o Segundo Império cujas caricaturas são célebres. Aristocratas ou não, políticos, escritores, a Igreja católica e o Vaticano, todos sempre tiveram que se submeter à ironia dos caricaturistas, em sua maioria anticlericais.

#CharlieHebdo não pode ser comparado a um criminoso como Dieudonné, julgado pela Justiça francesa. #CharlieHebdo reside na França, onde a liberdade de expressão é estabelecida pela lei republicana e não pela lei religiosa! Aqui é proibido ofender os crentes, mas pode-se ridicularizar qualquer religião e seus dogmas.

Na França de hoje, têm-se a liberdade de fazer caricatura de tudo e de profetas de toda ordem, sejam eles muçulmanos, cristãos ou judeus. Neste país existe uma tradição iconoclasta (moderna) porém não há qualquer herança iconofóbica advinda das civilizações árabes e bizantinas. A lei das religiões não pode ser imposta à lei dos homens. Sobretudo se esta lei serve como razão para matar inocentes.

Imagens: "Foto símbolo" de Stéphane Mahé (Reuters). "A Liberdade guiando o povo" (1830), de Eugène Delacroix.


Marcadores: amor, democracia, França, laicidade, liberdade

posted by Sheila Leirner at 22:51

sexta-feira, 27 de julho de 2012

O absurdo da perenidade destruída pelo acaso.


Estandarte: Hélio Oiticica, 1968

Pode-se chamar a destruição de um acervo artístico de perda material? Pode haver seguro ou substituição para a morte do elemento vivo da criação?

São dois os níveis de compreensão para este desaparecimento. Um, o econômico e cultural. Outro, o filosófico.

Falar, portanto, sobre o prejuízo que significa o aniquilamento de centenas de obras, para um país que ainda se encontra em tão precária situação cultural, seria o óbvio. Dizer que o ocorrido corresponde ao dano de uma sala histórica destruída em Versalhes, talvez fosse até impróprio. Afirmar que não existem recursos para a substituição ou restituição de um patrimônio artístico desta monta é cair na banalidade de uma evidência.

Do ponto de vista ético, no entanto, importa agora só a compreensão filosófica deste acontecimento lastimoso. É o momento em que fatalmente se questiona a fragilidade, não do homem, mas das suas manifestações. Mesmo as que carregam a aura da imperecibilidade, o sentido de sua representação espiritual maior. As que continuam a gerar reverência tanto entre o público comum quanto entre a vanguarda que justamente contesta estas qualidades. Da mesma forma como há a serena aceitação da transitoriedade da vida humana, é extremamente difícil duvidar da perenidade da obra de arte como objeto e como idéia representada. No seu sentido tradicional ou contemporâneo, ela ainda parece representar a perpetuação do homem. Queira o artista ou não, existe a noção de que a obra o ultrapassa no tempo e no espaço.(...)

A conhecida escultura do suíço Jean Tinguely, que se autodestruiu em alguns minutos, talvez tenha sido a primeira de todas as manifestações desmaterializadas da arte. Pois, além de colocar em questão as características convencionais da arte tradicional, apresenta a obra verdadeiramente indestrutível, porque na própria destruição está a idéia da sua perenidade.

Não obstante, como explicar o sentimento de dor que nos invade ao saber da destruição real dos valores por nós tão contestados? As idéias acabam por permanecer soterradas sob o metafísico e irreparável sentimento de perda, que não é mais do que um profundo e irracional sentimento de amor. O mesmo que gera o próprio ato da criação.



Trechos do artigo escrito na manhã de domingo, dia 9 de julho de 1978, na própria redação do jornal
O Estado de S. Paulo, enquanto que lágrimas rolavam pelo meu rosto. Eu estava sob o choque da notícia do incêndio no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro, desastre sem precedentes na história das grandes coleções de artes plásticas onde desapareceram duas telas de Picasso, duas de Miró e centenas de obras de artistas brasileiros colecionadas ao longo de 20 anos. De mil obras, restaram 50, e dos dois andares atingidos, cinzas. O sinistro do MAM atingiu dimensões jamais registradas. Além do acervo do museu, queimou-se toda a mostra Arte Agora II onde estavam expostos 205 quadros de pintores latino-americanos, entre eles toda a fase construtivista do uruguaio Joaquín Torres-Garcia, um período de quase duas décadas de criação.

Marcadores: amor, arte, cores, lembranças, visões

posted by Sheila Leirner at 08:23

sexta-feira, 25 de março de 2011

Comemoração


Picasso, "Woman with a cigarette".

Não tenho nada contra quem fuma, detesto moralismo e pregação, porém acho importante partilhar experiências. Há exatamente 1 ano e três meses escrevi isto: "Leitor querido, amigo do QOC, blog world, bom dia! Estou em guerra, não repare por favor. Primeira batalha. E que difícil! Olha o arsenal: chicletes, gomas, balinhas (tudo sem açucar), tic-tac e selos de nicotina para colar no braço. Ai que pesadelo essa luta contra o cigarro. Quando me despedi dele, até chorei. Foi um "bom" companheiro que me fazia mal. Daqueles para quem a gente não tem coragem de dar um basta. Como resolvi? Com papel e lápis. Assim, em duas colunas: de um lado escrevi os prazeres e de outro os problemas. A lista dos problemas ficou tão mais longa, que não tive outra alternativa. Não que não tenha me preparado. Fui me preparando aos pouquinhos, deve ter levado umas duas semanas, e um dia quando acordei com aquela mesma tosse e sensação de estar intoxicada, me olhei no espelho e disse: "É hoje! Cigarro, eu te odeio! Liberdade ou morte! Em guarda objeto abjeto!" Espero conseguir vencê-lo, veremos. Se não conseguir não serei a primeira nem a última, mas pelo menos estarei convencida de que aceitei conviver com o inimigo."

Bem, até agora (graças ao TOCMF e à auto-persuasão) venci o inimigo. Até amanhã, que agora é hoje!

posted by Sheila Leirner at 09:00

sábado, 1 de maio de 2010

Dia de trabalho


1° de Maio. Dia do trabalho. Paris não deve estar coberta de muguês. Deve estar coberta de papel celofane com muguês dentro. Provavelmente em todas as ruas, praças e saídas de metrô têm algum vendedor que chegou antes para ocupar o espaço com a sua mesinha. Dependendo do poder aquisitivo deles, os franceses podem ficar com um, dois, três, quatro ramos e mesmo um vaso cheio desses lírios-do-vale. Além de perfumados, supõe-se que eles tragam sorte. Mas são aquele tipo de coisa maravilhosa e angustiante que murcha a olhos vistos no espaço de algumas horas.




Até amanhã, que agora é hoje (estou em meu escritório trabalhando) e ontem também foi dia de trabalho! Com três raminhos e alguma teima*, fiz este clipe para você!


*Teima
1. Insistência em fazer alguma coisa, ainda que enfrentando dificuldades ou obstáculos.

posted by Sheila Leirner at 08:32

sábado, 6 de março de 2010

Falando de coisas sérias




Nasceu!

928 páginas, 1344 gramas e 5 anos de gestação, junto com um parceiro excepcional e colaboradores do primeiro time! Até amanhã, que agora é hoje e vou comemorar, uf!

posted by Sheila Leirner at 16:17

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Seis coisas que aprendi


Não é todo mundo que faz dois aniversários de uma só vez. Eu, sim. Hoje, além do meu aniversário atual, resolvi comemorar igualmente aquele decênio a mais que completei há um ano. Pois que sou muito lenta, só agora caiu a ficha de como a data foi importante para mim. Simbólicamente, ela anunciou a chegada a uma suposta maturidade que não festejei porque mal percebi! Hoje, portanto, não apenas o champagne, o bolo e o presente virão em dobro, como escreverei seis coisas que aprendi em seis decênios e que, não sendo "prescrições" mas apenas experiências pessoais, talvez outras pessoas possam aproveitar:

1) Não minta (ou omita) a idade. É melhor dizer a verdade e parecer mais novo do que mentir e parecer mais velho e... mentiroso. Alguns anos não fazem a menor diferença e, de qualquer maneira, todo mundo sempre sabe (ou calcula) qual é a sua idade.

2) Se não for por problemas estéticos graves, psicológicos ou de saúde (e se você não for ator, apresentador de televisão ou artista especializado em performances cirúrgicas) não faça nenhuma intervenção ou aplicação artificial de elementos estranhos ao seu corpo. Você conhece sensação mais desagradável do que não reconhecer um amigo? E coisa menos estética e mais repugnante do que um rosto ou um corpo refeitos quando se percebe (e sempre se percebe) que foram alterados? Um rosto com rugas e mesmo um corpo com defeitos podem ser belos, mas um rosto ou um corpo refeito não tem beleza, jamais.

3) Aprenda a se amar: aceite a sua idade, o seu rosto e o seu corpo como eles são e você terá uma das maiores provas de seu amor por sí mesmo. Mesmo que a idéia lhe incomode e você não goste de freqüentar os clubes que lhe aceitem como sócio, o esforço vale a pena. Com ou sem papo, rugas ou barriga, existem pessoas mais amáveis e atraentes do que aquelas que se amam?

4) Seja o mais autônomo possível. Enquanto e quando não precisar, dependa o mínimo que puder de outros. Lembre-se de que uma pessoa assistida é uma pessoa diminuída. Quantos tenho visto infelizes apenas porque são preguiçosos ou não sabem fazer nada sem a ajuda de alguém. Secretária, assistente, ghost writer, professor de computador, personal trainer, coach, governanta, babá, empregada, motorista, psicólogo, manicura, psicanalista, guru, cabeleireiro, cozinheira, vidente, passadeira, engraxate, barbeiro, costureira, etc. – tudo isso pode ser uma grande armadilha. A facilidade paga-se caro. Se não forem absolutamente necessárias, estas "ajudas" podem enfraquecê-lo a ponto de deixá-lo dependente como de uma droga. Experimente ir tirando, uma a uma, todas as muletas e você vai descobrir, com satisfação, quanta coisa é capaz de realizar sozinho! O que, além de ser uma grande economia, fará você se sentir mais forte, valorizado, feliz e orgulhoso. Penso especialmente em Marguerite Yourcenar que simplificou tanto o final da vida dela a ponto de "esperar como uma recompensa" o deleite proporcionado pelo pão feito com as suas próprias mãos.

5) A maior vantagem da autonomia é a descoberta do "fluir" ("flow", segundo Mihaly Csikszentmihalyi) que traz a felicidade. O "fluir" é o exato oposto da preguiça, uma espécie de aumento para a vida, algo difícil de explicar pois trata-se de uma delícia e, como todas as delícias, é preciso prová-la para saber o que é. Porém, é um prazer inteiro muito fácil de encontrar. Não é ficar como uma lagartixa ao sol num iate, ou em frente da televisão ou numa festa de copo na mão. Ele acontece quando a gente se dá uma tarefa justa e bastante difícil que requeira todas as nossas capacidades e toda nossa atenção. Desenvolvemos uma paciência, uma competência, existe um progresso e os desafios são cada vez maiores. É como se estivessemos hipnotizados sem pensar em nada de ruim. Esse é o "bom trabalho" que faz a "vida boa", nada a ver com o moralismo da frase "trabalhar enobrece"... Descubra em suas atividades (autônomas) a que mais o transporta ao mundo da felicidade, fazendo você esquecer os problemas e as preocupações do dia a dia. Eu lhe garanto por minha própria experiência que, ao tirar as "muletas" citadas acima, você certamente descobrirá várias ocupações nas quais esse verdadeiro "fluxo" vai prosperar.

6) Ambicione pouco e sonhe muito. Diz-se que a chave da felicidade é não ambicionar o que não se pode ter e amar o que se tem. Concordo com a segunda parte, porém o melhor seria trocar a ambição pelo sonho que, além de não fazer mal a ninguém, pode ter um efeito mágico sobre aquilo que se deseja. Se você "sonhar" em ter um carro como o do seu vizinho, você não sentirá a inveja e a angústia que a "ambição" de ter aquele carro lhe traria. O sonho é positivo, a ambição é negativa. É possível até mesmo que, de tanto sonhar, um dia você venha a ter o tal do carro... e se não tiver, vai poder dizer sem qualquer mágoa: "foi apenas um sonho".

Até amanhã, que agora é hoje e as próximas "experiências da maturidade" aqui no QOC... só quando eu estiver com 70!

Marcadores: amizade, amor, cores, lembranças, literatura, visões, votos

posted by Sheila Leirner at 08:22

sexta-feira, 19 de maio de 2006

A incrível história de O.

Opal reconstituindo o seu diário, em 1919.
FOTO DE BACHRACH (publicada no jornal Le Monde) com a autorização da MASSACHUSETTS HISTORICAL SOCIETY

Esta história, cheia de perguntas, me fascina. Quem foi Opal Whiteley? A menina primogênita de um rude lenhador americano, nascida e educada numa cabana do Oregon? Ou, como sustentou a vida inteira, uma descendente natural da linhagem dos Orléans?

O diário que ela começou com a idade de 7 anos é verdadeiro? Qual teria sido o destino desta jovem superdotada e solitária nascida em 1897 se ela não tivesse dedicado a sua mocidade à procura desesperada de reconhecimento, antes de passar as quatro últimas décadas de sua vida em um hospital psiquiátrico?

Como ela consumiu mais de oito meses reconstituindo o seu diário, rasgado em milhares de fragmentos por uma de suas irmãs? (foto) Porque o seu diário publicado e recebido com imenso sucesso em 1920, foi esquecido? De que modo ela foi para a França com o intuito de encontrar "a avó", duquesa de Chartres que financiou a viagem dela à Índia, onde Henrique de Orléans encontrou a morte? Como é possível que ela tivesse trazido de lá uma quantidade excepcional de documentos sobre a vida daquele país e tivesse sido rejeitada, ao chegar, pela pretendida família francesa?

Sabe-se que Opal foi encontrada em 1948, errante e esfomeada nos subúrbios de Londres e colocada, aos 51 anos, no hospital em que terminou os seus dias. Enterrada perto daquela cidade, aos 95 anos, com o nome de Françoise Marie de Bourbon-Orléans, ela levou todos estes segredos para o túmulo. Mas o seu diário, narração estranha e poética da qual o essencial foi provavelmente escrito entre 1904 e 1905, parece ter encontrado finalmente o caminho da literatura.

Até amanhã, que agora é hoje e, desde quarta-feira, Hot Memories "já está nas bancas"!




Happy Birthday Betão!Feliz aniversário Betão, tesouro do QOC!!!

posted by Sheila Leirner at 09:52

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2005

TOCMF



João
Alma
Ana Lúcia
Ângela
Angélica
Betão
Boczon
Bruna
Carolina
Célia Regina
Charles
Cipy
Clarissa
Dudi
Edu
Elisa
Gisela
Giselda
Helô
Idelber
Julie
Lúcia
Márcia
Meg
Navegador
Panis
Patrick
Paulo
P. Cornovitch
Sarah
Zana
Zé
Fernando
Luciana
Lila
Luís
Luis Carlos
RMax
Maria Elisa
Cora
Gabriela
Vera
Lília
Aly
Elsa
Daniela
Luiz Roberto
Claudia
Mércia
Jeanete
Lila(2)
Bibi
Jorge Coli
Michael
Geneviève

Estes são os meus aliados na batalha contra o cigarro. São tantos que não dá tempo de por os links. Bela linha de frente, não? Pois bem, graças a eles estou vencendo o inimigo! Mesmo sem tic-tac... Verdade que o meu cérebro ainda funciona em velocidade paquidérmica. Às vezes demora para cair a ficha. Também o sono e a fome estão um pouco desnorteados. Mas, em compensação, a tossinha está indo embora e já subo escadas depressa e sem perder o fôlego. Além de que, o gosto e os cheiros voltaram. E como aqui um maço de cigarros custa o equivalente a 20 reais, o meu bolso me agradece todos os dias. Enfim, queria que soubessem o quanto estou contente e o quanto foi (e é) importante o seu apoio.

Até amanhã que agora é hoje e estou saindo para enfrentar a cara amarrada de segunda-feira dos parisienses!

Selo criado pela Lúcia, para você colocar em seu blog:

posted by Sheila Leirner at 09:39

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Sheila Leirner, franco-brasileira, nasceu em São Paulo. É crítica de arte, jornalista, curadora e escritora. Vive e trabalha em Paris desde 1991. É casada e tem dois filhos.☆☆☆ Sheila Leirner, franco-brésilienne, est née à Sao Paulo. Critique d'art, journaliste, commissaire d'expositions et écrivaine, elle vit et travaille à Paris depuis 1991. Elle est mariée et a deux enfants ☆☆☆ Sheila Leirner, franco-brazilian, was born in São Paulo. Art critic, journalist, art curator and writer, she lives and works in Paris since 1991. She is married and has two children. Site: https://www.sheilaleirner.com

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