Quando, Onde e Como

Quando e onde as coisas da arte e do quotidiano acontecem. E como as vejo. É assim que "Quando, Onde e Como" revela o que não publico nos jornais... When and where art and life facts happen. And how I see it. This is the way that “When, Where and How” shows what I do not publish in the press...

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Íntegra da conversa sobre o grupo da Casa 7

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Os artistas da Casa 7 em 1984


No sábado, dia 13 de junho, inaugura-se a exposição do grupo Casa 7 no Pivô, centro cultural no edifício Copan. Como os cinco membros do grupo participaram da 18a Bienal de São Paulo em 1985, ano enfocado pela presente mostra, os repórteres Camila Molina e Silas Martí, dos jornais O Estadão e A Folha respectivamente, me entrevistaram a respeito.

Segundo a Folha, a Bienal de São Paulo de 1985, foi “uma edição toda dedicada à pintura, que entrou para a história como Bienal da Grande Tela, por causa do longo corredor em que os quadros estavam expostos lado a lado.” Devo corrigir este parágrafo. Em primeiro lugar, não foi uma edição “dedicada à pintura”. Dois terços da 18a Bienal de São Paulo eram formados por instalações, esculturas e multimídia. Em segundo lugar, o evento não foi “dedicado” a nada, pois uma Bienal apresenta o que está sendo feito no momento e no mundo. E em terceiro, a Grande Tela não se compunha de “um longo corredor”, mas de três longos corredores.

Nos dois artigos, os artistas que em 1985 estavam evidentemente radiantes em participar com brio ao lado dos maiores nomes da pintura – coisa que foi percebida e comentada por toda a equipe da Bienal - 30 anos depois, resolveram que a "sopa estava ruim" e cospem o prato em que comeram.

Como não houve espaço para a publicação de minhas respostas às várias perguntas dos jornalistas, publico-as aqui na íntegra, para que não sejam jogadas no lixo da história, podendo servir como material aos futuros pesquisadores.




Camila Molina - Para você, qual a importância de se resgatar hoje, 30 anos depois, a produção dos artistas da Casa 7?

Sheila Leirner - Do ponto de vista do mercado, esse resgate seria apenas uma estratégia. E, como toda estratégia, mesmo as da vida corrente, não duraria. Mas do ponto de vista histórico e crítico, é sempre importante. O olhar contemporâneo modifica e enriquece a nossa visão do passado, tanto quanto o passado muda o nosso olhar sobre o presente. Com o Casa 7, pode haver um bom reajustamento do olhar. O que julgávamos excelente pode decepcionar e vice-versa.


Silas Martí - E o que achou da crítica na época que via o foco no neoexpressionismo como uma manobra de mercado?

S.L. - Achei exatamente o que ficou provado 30 anos depois: que não era pura manobra. Se fosse, teria vida curta. Veja, o MAM de Paris está hoje com uma extraordinária retrospectiva de Markus Lüpertz. Não ganhou nem uma ruga!


C.M. - Pensando hoje com distanciamento sobre A Grande Tela, como foi colocar as obras daqueles jovens artistas na Bienal?

S.L. - Não foi fácil. Os trabalhos deles eram desiguais. Uns eram mais maduros, outros francamente imaturos. Por esta razão, hesitamos bastante em convidar o Casa 7.


S.M. - Queria que você falasse um pouco sobre a Bienal de 1985, como decidiu convidar o grupo e o que aconteceu depois, como vê a cena de pintura hoje no Brasil.

S.L. - Hesitamos bastante, chegamos até mesmo a pensar em excluir os mais fracos, mas optamos por não separar o grupo, o que foi justo.

Depois aconteceu o que a gente já sabe. O interessante, talvez, é nos perguntarmos o que ficou da Grande Tela. Para mim, ficou a imagem de uma réplica do universo das intervenções, um desdobramento completamente prospectivo e quase divinatório da grande teia em que ele acabou por se transformar com a mundialização e o verdadeiro emaranhado do Web. Como os artistas, e a sua arte, são os únicos a possuir a capacidade de prospecção, um espaço crítico que os teve como medida só poderia nos fazer ver adiante. Olhando a produção pictórica hoje, não apenas no Brasil, como no mundo, penso que a Grande Tela, finalmente, se materializa.


C.M. - Como você recebe as críticas dos artistas da Casa 7 sobre A Grande Tela? Fabio Miguez já afirmou que seu discurso curatorial era "ambíguo".

S.L. - Depois da retratação no final dos anos 90 dos próprios alemães que tinham se insurgido contra o espaço e a ideia, pensei que não houvesse mais incompreensões. Pessoalmente gosto de críticas construtivas, costumo aprender muito com elas, mas não posso aceitar críticas advindas de incompreensões. Para mim, enquanto crítica e curadora, a arte sempre foi a medida de tudo. Quando alguém diz que o meu "discurso era ambíguo" penso que a pessoa só pode estar falando da própria pintura que me levou a criar um espaço e uma análise análogos ao espaço real onde ela existia e se desenvolvia na época. Se o discurso era ambíguo, se é que foi mesmo, é porque provavelmente a arte também o era.


C.M. - O Fabio Miguez disse também que A Grande Tela mostrou que eles "eram mais coletivos do que supunham". Você concorda?

S.L. - Concordo em parte. Eles não eram apenas "coletivos". O espaço curatorial da Grande Tela não dava margem a interpretações. Era perfeitamente declarado, límpido, direto, construído a partir, não de vieses ou princípios próprios, mas do repertório das obras de arte que enfocava. Aquele lugar conceitual e premonitório, pode-se dizer, revelou, antes da hora, que a pintura de quem estava lá, participava da ideia da "mundialização de individualidades". Ficou explícito, além do coletivo, que era a SINCRONICIDADE em seu sentido simbólico e poético, sugerida pelas próprias pinturas, e não a "homogeneidade", como diz o Fábio Miguez, o que estava em questão na Grande Tela.


S.M. - Você pode comentar como foi o relacionamento com eles na época da Bienal?

S.L. - Foi um relacionamento tenso, o que é normal tanto pela inexperiência deles na época quanto pela novidade e importância da situação. Sentia-se que estavam felizes, porém que não “ficava bem” demonstrar (rs) Também não sabiam exatamente qual era o seu papel dentro de um espaço “explicitamente” coletivo, não homogêneo, sincrônico e assertivo como aquele. Queriam a compartimentação, que é sempre mais protetora. Uns estavam mais confiantes, outros com o pé atrás. Coincidência ou não, penso que os menos “objetantes” se saíram melhor em suas carreiras.


C.M. - Enfim, seu balanço, hoje, sobre esse ponto de seu projeto curatorial é positivo ou negativo?

S.L. - Muito positivo! Quando se elimina a hierarquia e o escalões de "importância" entre jovens iniciantes e figurões, livramos o espectador do parti pris que o impede de fruir a obra com verdade. Ao participar de uma apresentação coletiva, e não compartimentada como os artistas do Casa 7 desejavam - o que provocou os atritos entre nós - os trabalhos do grupo, a meu ver, cresceram muito.


S.M. - Como situa os artistas da Casa Sete no panorama daquela época e o que acha deles hoje.

S.L. - No panorama daquela época, o grupo Casa 7 estava mais para “aprendiz” talentoso e experimental que desencadeia eventos sem pensar nos seus efeitos, do que para “feiticeiro” que sabe controlá-los. Qualidade juvenil. As personalidades, caráter, preocupações e energia de cada um eram muito diferentes, portanto evoluíram de formas diversas. Uns com mais arrogância e rigidez, outros com modéstia e flexibilidade, todos se saíram bem – melhor ou pior.

Marcadores: arte, cores, lembranças, visões

posted by Sheila Leirner at 10:25

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Sheila Leirner, franco-brasileira, nasceu em São Paulo. É crítica de arte, jornalista, curadora e escritora. Vive e trabalha em Paris desde 1991. É casada e tem dois filhos.☆☆☆ Sheila Leirner, franco-brésilienne, est née à Sao Paulo. Critique d'art, journaliste, commissaire d'expositions et écrivaine, elle vit et travaille à Paris depuis 1991. Elle est mariée et a deux enfants ☆☆☆ Sheila Leirner, franco-brazilian, was born in São Paulo. Art critic, journalist, art curator and writer, she lives and works in Paris since 1991. She is married and has two children. Site: https://www.sheilaleirner.com

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