Seis coisas que aprendi
1) Não minta (ou omita) a idade. É melhor dizer a verdade e parecer mais novo do que mentir e parecer mais velho e... mentiroso. Alguns anos não fazem a menor diferença e, de qualquer maneira, todo mundo sempre sabe (ou calcula) qual é a sua idade.
2) Se não for por problemas estéticos graves, psicológicos ou de saúde (e se você não for ator, apresentador de televisão ou artista especializado em performances cirúrgicas) não faça nenhuma intervenção ou aplicação artificial de elementos estranhos ao seu corpo. Você conhece sensação mais desagradável do que não reconhecer um amigo? E coisa menos estética e mais repugnante do que um rosto ou um corpo refeitos quando se percebe (e sempre se percebe) que foram alterados? Um rosto com rugas e mesmo um corpo com defeitos podem ser belos, mas um rosto ou um corpo refeito não tem beleza, jamais.
3) Aprenda a se amar: aceite a sua idade, o seu rosto e o seu corpo como eles são e você terá uma das maiores provas de seu amor por sí mesmo. Mesmo que a idéia lhe incomode e você não goste de freqüentar os clubes que lhe aceitem como sócio, o esforço vale a pena. Com ou sem papo, rugas ou barriga, existem pessoas mais amáveis e atraentes do que aquelas que se amam?
4) Seja o mais autônomo possível. Enquanto e quando não precisar, dependa o mínimo que puder de outros. Lembre-se de que uma pessoa assistida é uma pessoa diminuída. Quantos tenho visto infelizes apenas porque são preguiçosos ou não sabem fazer nada sem a ajuda de alguém. Secretária, assistente, ghost writer, professor de computador, personal trainer, coach, governanta, babá, empregada, motorista, psicólogo, manicura, psicanalista, guru, cabeleireiro, cozinheira, vidente, passadeira, engraxate, barbeiro, costureira, etc. – tudo isso pode ser uma grande armadilha. A facilidade paga-se caro. Se não forem absolutamente necessárias, estas "ajudas" podem enfraquecê-lo a ponto de deixá-lo dependente como de uma droga. Experimente ir tirando, uma a uma, todas as muletas e você vai descobrir, com satisfação, quanta coisa é capaz de realizar sozinho! O que, além de ser uma grande economia, fará você se sentir mais forte, valorizado, feliz e orgulhoso. Penso especialmente em Marguerite Yourcenar que simplificou tanto o final da vida dela a ponto de "esperar como uma recompensa" o deleite proporcionado pelo pão feito com as suas próprias mãos.
5) A maior vantagem da autonomia é a descoberta do "fluir" ("flow", segundo Mihaly Csikszentmihalyi) que traz a felicidade. O "fluir" é o exato oposto da preguiça, uma espécie de aumento para a vida, algo difícil de explicar pois trata-se de uma delícia e, como todas as delícias, é preciso prová-la para saber o que é. Porém, é um prazer inteiro muito fácil de encontrar. Não é ficar como uma lagartixa ao sol num iate, ou em frente da televisão ou numa festa de copo na mão. Ele acontece quando a gente se dá uma tarefa justa e bastante difícil que requeira todas as nossas capacidades e toda nossa atenção. Desenvolvemos uma paciência, uma competência, existe um progresso e os desafios são cada vez maiores. É como se estivessemos hipnotizados sem pensar em nada de ruim. Esse é o "bom trabalho" que faz a "vida boa", nada a ver com o moralismo da frase "trabalhar enobrece"... Descubra em suas atividades (autônomas) a que mais o transporta ao mundo da felicidade, fazendo você esquecer os problemas e as preocupações do dia a dia. Eu lhe garanto por minha própria experiência que, ao tirar as "muletas" citadas acima, você certamente descobrirá várias ocupações nas quais esse verdadeiro "fluxo" vai prosperar.
6) Ambicione pouco e sonhe muito. Diz-se que a chave da felicidade é não ambicionar o que não se pode ter e amar o que se tem. Concordo com a segunda parte, porém o melhor seria trocar a ambição pelo sonho que, além de não fazer mal a ninguém, pode ter um efeito mágico sobre aquilo que se deseja. Se você "sonhar" em ter um carro como o do seu vizinho, você não sentirá a inveja e a angústia que a "ambição" de ter aquele carro lhe traria. O sonho é positivo, a ambição é negativa. É possível até mesmo que, de tanto sonhar, um dia você venha a ter o tal do carro... e se não tiver, vai poder dizer sem qualquer mágoa: "foi apenas um sonho".
Até amanhã, que agora é hoje e as próximas "experiências da maturidade" aqui no QOC... só quando eu estiver com 70!
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